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Por que desenhar se posso tirar foto?


Em tempos onde a tecnologia nos surpreende pela extrema facilidade em obter imagens de alta definição, essa pergunta se torna cada vez mais constante. Apesar de também exigir estudo e técnica, tirar boas fotos hoje é algo muito mais democrático que antigamente. No entanto, quando nos deparamos com a ilustração de uma ideia ou de uma criatura extinta, não nos fazemos essa pergunta. Parece óbvio que ideias e inferências não podem ser fotografadas, mas, sim, ilustradas, aumentando a compreensão e a percepção que temos de algum assunto. Contudo, a ilustração é necessária somente onde a fotografia não pode ser aplicada? Por que alguém seria contratado para ilustrar uma criatura vivente e macroscópica? Além disso, a ilustração não é uma forma de arte que inclui muita subjetividade e, assim, seria menos objetiva que uma fotografia? Como pode ter valor científico?


Um ponto importante para começarmos a responder essas questões são os métodos utilizados na ilustração científica. Primeiramente, as ilustrações são feitas em escala, de forma que as proporções são exatas entre o objeto de estudo e o desenho. Inclusive, em caso de ilustrações coloridas, as tonalidades e pigmentos são cuidadosamente testados para serem fidedignos ao modelo real. Dessa forma, é possível perceber que a ilustração científica não é um mero desenho, pois existe um profundo estudo prévio do objeto de interesse.


Embora seja carregada de subjetividade, por ser uma interpretação do ilustrador, a ilustração científica também pode ser muito mais objetiva que uma foto. Enquanto a fotografia proporciona toda a informação que o modelo pode ter, mostrando formas e cores, a ilustração tem o poder de resumir e destacar a informação que é necessária para aquele estudo. Ou seja, torná-la mais objetiva. Além disso, muitas vezes o material de estudo não se encontra em seu melhor estado de conservação (perda de cor por causa da fixação, partes danificadas, espécime retorcido, etc). Nesses casos, somente a ilustração tem a capacidade de extrair a informação necessária para caracterizar precisamente a forma ideal desse material.


Pesando os problemas e soluções que ambas as abordagens promovem, a ilustração científica se mostra mais adaptável ao material de estudo, permitindo um resultado final mais coerente com o material de interesse e o objetivo do pesquisador. De forma alguma desmerecemos o uso da fotografia, mas gostaríamos de exaltar o valor que a ilustração científica tem e sempre terá na carreira de um pesquisador, visto que, infelizmente, é considerada por muitos como uma atividade decadente ou desnecessária. Citando o renomado ilustrador científico português Pedro Salgado, “enquanto houver ciência e a necessidade de que ela seja divulgada, a ilustração científica continuará tendo sua importância e aplicação”.

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